terça-feira, 13 de janeiro de 2015

em galego nasço sinto e beijo
digo nai mai ma mãe avoa e pai
moro nas casas dos meus antergos
vivo as suas coisas cadenciosas
a minha avoa fala-me em galego
nem sabe nem quere falar outra coisa
a minha nai sete passos por detrás
traduz-a ao castelão
non quere escutar
o meu pai fala e fala em castelhano
de coisas novas e remotas
na minha casa há castelhano e galego
castrapo e muita diglosia
el gallego es tan rechamante y bruto
el castellano es más moderno y fino
en castellano me enseñan el mundo
chamo-lhe perro ao cãe e também vem
a cadela é cadela e perra
cada un seu tem o seus nomes
as suas cores e os seus cheiros
amarela gesta doce dourado tojo espinho ó sol
verde tromentelo todos os verdes vivem em mim
brancos e lilas dos carrascos que pintam os cumes
dende os que eu outeo a terra toda
terrras da españa areias de portugal
bebo chá de camelia chinensis
chamo-che chá ou té ou ti da china
às vezes o escrevo tea
e sempre prende em min
falo das árvores, das suas raízes
dos ouregos no spaghetti
chamamos-lhe massa
os iris de Liz Taylor no mar atlântico
esse oceano mar de mares e rias quedas
todos os azuis vivem em min
em galego digo irma irmao irman
pão e pam
esse pão que nos tem pelo mundo
partilhando nesse espelho
galego é luta e diáspora
galego que trilha as mieses castelhanas
galego que fala galego com a lua
galegos que som espanhois
espanhois que som galegos
portugueses brasileiros africanos
na infinitude próxima
do norte do sul
na vastidade do oriente
galego preto claro baiano
viking do mar galego
galego que deixou a sua pegada genética na grande bretanha
raça ultramar que viu da américa non se sabe bem
isso é o que falam agora os genetistas de oxford
não sei se estarão de acordo os de cambrige
eu digo olá aos regatos e ás fontes
e entre as negras sombras vexo luz
sempre em Galiza sempre na mar tras-os-montes
esses slims desse centro financeiro que é avião
en méxico df, en nova york ou no rio
em salvado en manaos en cabo verde
os descobridores magalhães os castros
as belas otero maharanies do condado
os nespereiras do japão os leãozinhos
espalhando essa lusofonia pelo mundo
esta lusofonia que é poesia dura

(Publicado em Elipse n.º1)

aib1420

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