segunda-feira, 20 de abril de 2015

(céu carregado)

(céu carregado)

Certas flores pendem das suas copas como vinhos de tal modo ébrios de si mesmos que contrariam a lei da gravidade – ficam anos a fio nas pipas, essas flores de uma só estação. E também velas que se acumulam acesas, ninguém morreu, deus não precisa de existir, velas a nada ancoradas a não ser ao seu fazer sopro. E também distantes banhos de espuma, onde há de um dia o Fortuna fazer propaganda a um sabonete quase metafísico. Um mundo infinitamente suspenso, infinitamente maduro. Puta que pariu, é preciso dizê-lo: são monções de beleza como as que se diz que existem nas Índias mal localizadas.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Pedro Ludgero (Porto, 1972. Portugal)
No âmbito da poesia, editou Se o poema tem areia (2001), O fim não é o fim (2004) e Sonetos para-infantis (2010). Ganhou o Prémio Literário de Sintra com a coletânea de contos Leilão de pensamentos (2005). Possui bastante obra inédita. Realizou a curta-metragem Checkpoint Sunset.

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