quarta-feira, 3 de junho de 2015

Três poemas

Três poemas


É incessante o som dos cascos que antecede a tua chegada. Nesse tempo de aguardo, o sono queima pelas bordas. Eu masco vidros, e sorrio hulha, em meio ao cerco das gardênias. Prometo: desnudar-me-ei para ti, e a minha inocência não cairá com meu vestido.

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Não volto atrás. Havia o Cristo torturado pelo amor, a mãe transformada em arquétipo da morte, o silêncio que o pai exalava à hora do jantar. Eu desejava essa trindade fincada no garfo, como quem fixa a diáspora nos azulejos de um hospício.

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Trouxe o sangue à tona, sacralizei a navalha na ferrugem, e conspurquei, com a honra, o leito dos meus irmãos. O mal que crescia em mim como raízes, podaram-no, para que só eu sentisse, no âmago, as arestas: hoje inquietam menos do que a dúvida. Qual deles não praticou o vitupério? Quando me impuseram as suas virtudes condenaram-me à minha verdade.

(Publicado em Elipse núm. 2, fevereiro de 2014)

Camila Vardarac (Brasil)

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