domingo, 28 de agosto de 2016

a superfície da mesa como uma

minúscula cosmogonia: a chávena
de café e a garrafa das águas.
se olharmos com atenção vemos
também vestígios: marcas de copos,
resquícios de outras conversas,
a definitiva teoria sobre o belo. que
desencanto! fecho o caderno
vou para a porta, puxo
do cigarro mas é outro artificio
literário: um cigarro pensativo.

*

se a tua mão falasse
não seria mão mas boca.
uma boca com dedos, memória
a leveza do amor. uma boca
que dá a mão, dá a luz
que se une a outra mão.
(duas mãos que inauguram
um olhar sobre a terra).
se a tua mão fosse livro
não seria mão mas início
de história, a nossa história.
a tua mão é tudo isto:
boca, amor, olhar, o sustento
da nossa história. a tua mão
é também beijo, vento
alegria, o próprio mundo
quando não estou na tua mão.


Rui Tinoco (Portugal)
Psicólogo, vive no Porto. Tem publicados dois livros de poesia: O Segundo Aceno (Edições em Pé, 2011) e Era Uma Vez o Branco (Volta d'Mar Edições, 2013). Participou em diversas revistas literárias. Mantém o blogue Ladrão de Torradas: http://ladraodetorradas.wordpress.com/

Sem comentários:

Enviar um comentário